Esta citação de um dos heterónimos de Fernando Pessoa deixa-nos a pensar na importância do sonho. O sonho é o motor da nossa vida, sem ele esta seria muito "sem sal".
Existem dois tipos de sonhos, aqueles que temos quando estamos a dormir e aqueles que passam principalmente pela imaginação e objectivos que queremos atingir e, que por vezes achamos que são inalcansáveis. E são estes últimos que, na minha opinião, Pessoa quis referir nesta reflexão do seu heterónimo Ricardo Reis.
O sonho possui uma força muito forte na nossa vida. Este traz-nos objectivos que queremos alcançar no futuro e, por isso nos fazem lutar para os atingir conseguindo assim criar um mundo novo, um universo completamente diferente da realidade que tínhamos conhecido até essa altura. Mas o sonho traz-nos, principalmente, alegria quer seja pela viagem por lugares que achamos maravilhosos, pela felicidade de alcançar os nossos objectivos ou pelo simples facto de imaginarmos histórias maravilhosas.
Por fim, posso afirmar que o sonho é tão essencial à nossa sobrevivência como a comida e a água, ambos são necessários à nossa vida e a falta de um deles mataria uma parte essencial de nós. Matar os sonho seria portanto como se matássemos a nossa alma e existisemos fisicamente mas seriamos simples animais que fazem tudo igual aos outros.
Para concluir deixo-vos com o texto completo de Fernando Pessoa sobre o sonho
"De resto eu não sonho, eu não vivo; sonho a vida real. Todas as naus são naus de sonho, logo que esteja em nós o poder de as sonhar. O que mata o sonhador é não viver quando sonha; o que fere o agente é não sonhar quando vive. Eu fundi numa cor una de felicidade a beleza do sonho e a realidade da vida. Por mais que possuamos um sonho nunca se possui um sonho tanto como se possui o lenço que se tem na algibeira, ou, se quisermos, como se possui a nossa própria carne. Por mais que se viva a vida em plena e desmesurada e triunfante acção, nunca desaparecem o _____ do contacto com os outros, o tropeçar em obstáculos, ainda que mínimos, o sentir o tempo decorrer.
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
O Universo, a Vida — seja isso real ou ilusão — é de todos, todos podem ver o que eu vejo, e possuir o que eu possuo — ou, pelo menos, pode conceber-se vendo-o e possuindo e isso é _____
Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. E se do mundo exterior o meu vê-lo difere de como outros o vêem, isso vem do que do sonho meu eu ponho em vê-lo, sem querer, do que do sonho meu se cola a meus olhos e ouvidos."
Bernardo Soares, Livro do Desassossego (326)
P.S. - Os espaços em branco foram deixados pelo poeta no texto original, creio que Pessoa pretendia deixar o leitor interpreta-los da forma que achasse melhor
Sem comentários:
Enviar um comentário